No dia 21 de fevereiro, a equipa da SeaEO-Tours recebeu uma comunicação VHF com um MAYDAY (pedido de socorro) resultado de um ataque de orcas, quando estava a terminar mais um passeio de observação de golfinhos, junto ao Meco.
Rapidamente tentamos perceber a distância a que se encontravam de nós e, sem hesitar, seguimos em seu auxílio.
Tratava-se de um veleiro de 12 metros, com 4 pessoas a bordo. A embarcação estava a cerca de 3 Milhas Náuticas Oeste do Cabo Espichel à deriva por causa de uma interacção com quatro Orcas que teriam partido o leme.
Chegados ao local, verificámos que os tripulantes se encontravam bem e com colete salva-vidas. As Orcas já tinham seguido o seu caminho. Quando preparávamos o reboque chegou também ao local o ISN (Instituto de Socorros a Náufragos – Autoridade Marítima Nacional), organismo responsável pelas áreas de salvamento marítimo, socorro a náufragos e assistência a banhistas, que os levou ao porto de Sesimbra.
Sidónio Paes, Sócio-Gerente da SeaEO-Tours e biólogo marinho, está a colaborar com o Grupo de Trabalho da Orca Atlântica. Salienta que “Não nos podemos esquecer de que estamos no habitat natural das Orcas. Há sempre um risco contudo o que podemos fazer é mitigar este novo comportamento delas. Temos de perceber como nos podemos defender, sem as ferir”.
Nos últimos anos tem se verificado um número crescente de ataques de Orcas a veleiros na península Ibérica e que resultam, na maior parte das vezes, na inutilização do leme. Não há registo de ataques diretos a humanos.
Não se sabe ao certo o que deu origem a esta interação das Orcas com os veleiros. O tema tem sido bem acompanhado desde Agosto 2020, data em que se deu a primeira interação, por grupos de biólogos marinhos e é alvo de estudos. Embora não haja conclusões finais, os ataques reportados até ao momento são desencadeados por fêmeas e juvenis, bastante bem estudados pelas comunidades de biólogos da península Ibérica.
Notícias sobre o assunto:
TVI: Grupo de orcas destrói leme de veleiro em Sesimbra. Veja as imagens do resgate
CNN Portugal: Grupo de orcas destrói leme de veleiro em Sesimbra. Veja as imagens do resgate
Sol: Veleiro atacado por grupo de orcas em Sesimbra
CMTV: Grupo de orcas ataca veleiro com sete tripulantes a bordo em Sesimbra
Notícias ao Minuto: Grupo de orcas ataca e destrói leme de veleiro em Sesimbra
Desde o início do ano 2023, Afonso Castanheira, fundador da Associação “Mestres do Oceano” tem patrulhado as praias na zona centro de Portugal, nomeadamente Peniche e Baleal e o cenário é devastador.
Diariamente têm arrojado (dão à costa), dezenas de aves marinhas, especialmente espécies de Alcídeos, como o Papagaio-do-mar. A maioria é encontrada morta nas praias daquela região. As aves sobreviventes aparecem sem forças para voar ou para andar. É nesse momento que a Associação, em conjunto com o ICNF e CRAM (Ecomare), juntam forças e tentam ao máximo fazer com que estas pequenas aves sobrevivam nos dias seguintes, alimentando-as, desintoxicando-as, dando-lhes abrigo para poderem ser reabilitadas e mais tarde reintroduzidas no seu meio aquático natural.
Todos os anos, especialmente nesta época de tempestades fortes no mar, “há várias aves a dar à costa, mas nunca como este ano”, reporta Afonso. “ É um fenómeno raríssimo em Portugal” e o problema é que ainda não se descobriu a causa de tantos arrojamentos. É sabido que a gripe das Aves tem afetado populações de Aves marinhas a nível mundial, especialmente no Norte da Europa. Poucas destas aves aparentam terem sido apanhadas em linhas de pesca, como o palangre ou redes de emalhar, contudo, este fenómeno vai para além desta ameaça.
Nos passeios de barco que a SeaEO desenvolve, é comum observarem-se várias espécies de aves marinhas como o grupo dos Alcídeos durante o Inverno, seja Tordas-mergulheiras (mais frequente), Airos ou mesmo Papagaios-do-mar. São espécies que durante o Outono e Inverno migram para zonas costeiras mais a Sul da Europa à procura de alimento para depois migrarem mais a Norte e procriar. Contudo, jamais observamos estas aves em perigo durante os passeios.
É preocupante que até ao dia 18 de Janeiro, Afonso e a sua equipa tenha encontrado mais de 400 animais arrojados numa pequena extensão de areia com cerca de 4 kms. A maioria grande estava morta e realmente coincide com a forte ondulação e ventos que se têm sentido na costa de Portugal Continental nessa altura. Vale a dedicação e conhecimento da Associação que tem salvo várias Aves marinhas arrojadas nos últimos naquela região, dando-lhe sempre o nome de “Coronita”, a qual continua a patrulhar diariamente as praias em buscar de lixo marinho e arrojamentos, com o objectivo de alertar a sociedade civil para a destruição da biodiversidade marinha e seus habitats, bem como da consciencialização da poluição marinha que temos assistido à escala global.
Temos que conhecer melhor este fenómeno, que representa o pior deste exemplo de destruição de biodiversidade marinha, difundir a mensagem e promover ações de conservação pela sociedade civil, agentes locais e diferentes sectores para que possamos proteger melhor as várias espécies com quem partilhamos este riquíssimo planeta.