Foi esta quarta-feira, 27 de julho, pelas 10:37 a bordo do “Odisseia”, num dos barcos da SeaEO Tours que os 12 clientes assistiram a um dos fenómenos mais incríveis da natureza – o nascimento de um golfinho.
As condições do rio e mar estava mais difíceis do que o habitual por estar bastante vento. Contudo, navegamos pela margem Sul e deparamo-nos com um grupo de oito golfinhos-comuns (Delphinus delphis), que é a espécie mais avistada no rio Tejo desde 2020. O grupo era composto por várias fêmeas com crias recém-nascidas, com alguns dias ou semanas, até que nos apercebemos que uma delas estava a agir de forma diferente.
Estava muito mais tranquilo à superfície e a vir respirar com maior frequência e sem se movimentar muito. Uns segundos depois, vimos uma cria a sair debaixo da fêmea, mesmo muito pequenina com cerca de 50cm: tinha acabado de nascer. “Um dos comportamentos da progenitora é empurrar a cria para a superfície para que ela respire pela primeira vez e foi isso que me chamou a atenção na altura. Foi um momento muito especial” – como relata Bartolomeu Paes (tripulante e guia da SeaEO Tours).
Foi-nos possível confirmar porque, para nosso espanto viu-se uma bolsa cor de laranja agarrada à fêmea. Inicialmente pensamos que poderia estar ferida, mas rapidamente deduzimos que, por estar uma bolsa presa e com uma cria tão pequena evidenciada com as pregas fetais (marcas do nascimento) de cetáceos, só podia ser a placenta.
Sabendo que estes animais são muito sensíveis ao som causado pelos motores, desligamo-los imediatamente, tal como o outro barco ao nosso lado de outra empresa. Apesar de termos uma distância de segurança aos animais, esta fêmea curiosamente aproximou-se dos barcos calmamente, como se viesse mostrar a sua cria recém-nascida. Com um movimento menos habitual, as fêmea consegui livrar-se da placenta passados 10 minutos.
Com uma gestação que dura entre 11 a 12 meses, estes mamíferos que vivem no mar têm uma maior atividade sexual na altura do Verão, entre maio e setembro. Facto é que, desde que temos avistado golfinhos no Tejo em 2020, há normalmente a presença de crias ou fêmeas grávidas.
Desde a pandemia que se têm avistado golfinhos no Tejo, mas nunca o nascimento de crias, o que nos poderá colocar a hipótese: “poderá o Tejo ser uma zona interessante para ter as crias, uma zona de refúgio ou uma maternidade?”. Em parceria com o MARE-ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada (Prof. Dra. Ana Rita Luís), a empresa está a estudar o motivo de se manterem por cá, mesmo depois de todas as atividades económicas terem retomado ao normal. Alguns dos golfinhos que vieram na altura da pandemia em 2020 e 2021, continuam aqui, por isso a razão pela qual se mantêm cá será mais forte, seja por disponibilidade de alimento seja por consideraram o Tejo uma zona de maternidade.
Como mencionado noutros meios de comunicação, “Antes de 2020, tínhamos cinco ou seis avistamentos por ano”. Este recente fenómeno terá várias razões, mas está certamente relacionado com a drástica redução de atividade humana durante o confinamento, seja por menos pressão da atividade de pesca, melhor qualidade da água do rio, menor poluição sonora e menor perturbação causada por navios ou barcos de recreio.
O Estuário do Tejo é das mais importantes zonas húmidas da Península Ibérica que alberga milhões de espécies em diversos habitats, funcionando com local de eleição para espécies marinhas e aquáticas que vêm nidificar, alimentar-se, procriar ou simplesmente de passagem. É por isso mais importante que nunca a promoção da conservação da biodiversidade marinha, seja por operadores marítimo-turísticos que desenvolvem atividades de sensibilização ambiental e turismo sustentável e responsável bem como de campanhas de educação ambiental com a sociedade civil.
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